Residências de luxo para idosos são opções cada vez mais seguras para garantir uma velhice tranquila. Mas prepare o bolso
“A alma nasce velha e se torna jovem. Eis a comédia da vida. O corpo nasce jovem e se torna velho. Eis a tragédia da alma.” A velhice, retratada dessa forma por Oscar Wilde, era mais um sinônimo de senilidade e decrepitude do que de sabedoria e experiência. Se o escritor irlandês do século XIX vivesse nos dias de hoje, talvez sua inspiração fosse outra. Ser velho não é impedimento para se ter uma vida intensa. Há toda uma máquina econômica que gira em torno da população acima dos 70 anos, oferecendo os mais diversos produtos e serviços. Muitos idosos possuem energia, querem fazer atividades e participar de maneira ativa da sociedade, mas precisam de cuidados e atenção que os filhos nem sempre podem dar. De olho nesse público, pipocam lentamente pelo País residências de alto padrão específicas para a terceira idade. Os preços chegam a R$ 10.500 ao mês e dão direito à moradia cinco estrelas.
Em São Paulo, Mila Szterenzys, 87 anos, busca por uma velhice tranquila e rica em atividades. Imigrante judia vinda da Polônia, chegou ao Brasil no final dos anos 40 com o marido, após ter perdido toda a família em um campo de concentração nazista em território polonês. Aqui , virou comerciante no Bom Retiro e, posteriormente, dona de uma fábrica de malhas. Após a morte do marido, ainda viveu algum tempo sozinha em seu apartamento da alameda Franca, nos Jardins, até que tomou uma decisão e mudou para uma casa de idosos. “Não queria dar trabalho para ninguém”, afirma. Há um ano, encontrou o Residencial Israelita Albert Einstein, na Vila Mariana. O valor alto da mensalidade (de R$ 4 mil a R$ 8,5 mil) não foi um impedimento.
“Vendi meu apartamento e tenho dinheiro suficiente para me manter aqui sem a ajuda das minhas filhas”, diz. O Residencial é aberto para residentes de todas as religiões. Não é fácil encontrar vagas. Os 165 apartamentos estão ocupados. Serão inaugurados 35 quartos novos até o próximo ano e já há uma fila de espera de 30 pessoas.
No mesmo espaço vive seu José Gruc, 85 anos, que morou os últimos 40 anos em Copacabana, no Rio de Janeiro. Com a morte da esposa, Esther, e, por não querer atrapalhar a rotina dos filhos, decidiu voltar para São Paulo e viver no Residencial, onde está há seis meses.
“Reencontrei um amigo de infância que não via há mais de 60 anos”, diz Gruc, empolgado. Entre a ginástica, o cinema, as saídas diárias e outras atividades rotineiras, ele encontra tempo até para ir dançar no clube Hebraica. “Quero encontrar uma nova companheira que acompanhe meu ritmo”, diz.
A mensalidade de quase R$ 7 mil é paga pelos enteados Sima Ferman, Theo Cohen e Frida Lucia Cohen.
Os moradores são livres para passear nos 20 mil metros quadrados do residencial e podem sair sozinhos, mediante aviso prévio. A mensalidade inclui duas viagens por ano: uma para a praia e outra para a montanha. Há também atendimento hospitalar e médicos de plantão 24 horas por dia. “A comunidade judaica paga a estadia de 75% dos residentes”, afirma Miriam Ikeda Ribeiro, supervisora do local. Entre os que estão na fila, há cinco idosos provenientes do Hiléa, residencial de luxo para idosos inaugurado em 2007 em São Paulo, mas que está fechando as portas. Comenta-se que o prédio foi vendido por R$ 56 milhões ao governo paulista para sediar o Instituto de Reabilitação Lucy Montoro.
O Hiléa era a opção mais luxuosa em São Paulo, mas os donos do empreendimento resolveram vendê-lo ao governo do Estado
Outros ex-clientes do Hiléa foram para o residencial Santa Catarina. De propriedade do hospital que leva o mesmo nome, ele possui 113 apartamentos de 38 a 42 metros quadrados , dos quais 92 estão ocupados. Trata-se de um prédio de 16 andares, com vista para a avenida Paulista e serviços de hotel de luxo. “Estou aqui há quatro anos e o tratamento que recebo nesse lugar é tão bom que nem na minha casa eu teria algo assim”, diz Nelson Zaher, médico aposentado e vice-presidente do conselho da AACD . Aos 89 anos, Zaher aproveita piscina, academia, home theater, bar, restaurante e ter em casa tudo o que tenho aqui, gastaria muito mais”, diz. Dona Nardina Guimarães, 83 anos, também decidiu ir para o residencial após perder o marido. Está lá há nove meses e não pensa em voltar para casa. “Meus filhos estão morando em outras cidades e eu não quero incomodar ninguém. Aqui fico bem, com pessoas ótimas, atividades maravilhosas e um atendimento excelente”, diz. Com a herança deixada pelo marido, Nardina poderia pagar enfermeiros e cuidadores 24 horas por dia para não ter que sair de sua casa. Mas não quis. “É complicado colocar estranhos em casa o tempo todo. Acho perigoso”, afirma. Enfermeiros, cuidadores, seguro-saúde, moradia. Tudo é mais oneroso quando já não se é tão jovem.
Mas será que as pessoas se programam para uma velhice que vai além das viagens e programas de terceira idade? Quando pensam em começar a sacar o plano de previdência aos 65 anos, poucos imaginam que possam viver até os 100, com gastos muitas vezes enormes. No Real Seguros Vida e Previdência, por exemplo, uma pessoa de 40 anos precisa depositar R$ 1.050 mensais para fazer saques de R$ 9 mil por mês após os 75 anos. O capital acumulado, de R$ 1,4 milhão, dará conta do recado. Na Caixa Econômica Federal, os aportes mensais para um plano PGBL custariam R$ 1.019 para um indivíduo com o mesmo perfil. Já se os saques começassem aos 65 anos, idade-base para a aposentadoria, o investimento seria superior a R$ 3 mil mensais em ambas as instituições. O importante é começar a poupar cedo. Para viver bem até o último dia, é preciso sacrificar o consumo de hoje e guardar para o de amanhã.
Publicada em 29/07/2009 13:18:26