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Nova gestão traça plano de mudanças para a Valec

A Valec vai ser submetida a uma reorganização completa de sua estrutura operacional e administrativa, mudanças que também terão implicação na publicação de novos editais para aquisição de equipamentos, contratação de obras e execução de estudos. Depois de protagonizar – ao lado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – uma série de escândalos que levou à queda de seu presidente e colocou na lona o Ministério dos Transportes, a estatal das ferrovias se prepara para retomar as operações baseada em um cronograma rígido. Na primeira entrevista concedida desde que assumiu o comando da Valec, há menos de dois meses, o engenheiro civil José Eduardo Castello revelou ao Valor o plano de ação desenhado para a estatal.

A Valec vai publicar já no início de 2012 um novo edital para a compra de 244 mil toneladas de trilhos. Trata-se de 1.711 km de vias em aço para serem usadas na Ferrovia Norte-Sul (entre Tocantins e Goiás) e na Ferrovia de Integração Oeste-Leste, na Bahia. O novo edital traz mudanças importantes em relação à concorrência anterior, cancelada em agosto após uma sequência de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União. Como o Brasil não tem nenhum fabricante nacional de trilhos, a licitação será aberta para a participação direta de fabricantes estrangeiros, sem a atuação de “tradings” locais, como acontecia com o edital anterior. Com a eliminação desse intermediário, Castello garante que o preço da licitação – inicialmente orçada em R$ 807,2 milhões – cairá drasticamente. “Teremos uma concorrência internacional, com a participação direta de siderúrgicas de outros países. Vamos economizar até 40% do valor previsto originalmente”, disse.

Paralelamente, será contratada – por meio de licitação a ser publicada em janeiro – uma consultoria empresarial para colocar ordem na gestão da Valec. Essa companhia, segundo Castello, vai desenhar o novo modelo operacional da estatal. “Como engenheiro, enxergo muitos problemas técnicos na empresa. Como gestor público, vejo uma organização com um nível gerencial muito pobre. São dois problemas prioritários que devemos resolver”, comentou.

Para melhorar o monitoramento de contratos, a área de tecnologia também começou a passar por uma reformulação. Sistemas de informática deverão ser usados para evitar falhas em etapas como a medição de obras, que checa a execução de serviços para realizar o pagamento. “Os controles atuais realmente são muito frágeis. O uso da tecnologia para esse controle ainda é muito incipiente, tudo era feito como 30 anos atrás”.

As mudanças internas também passarão pelo aumento do quadro de empregados e a redução drástica do número de colaboradores comissionados. Hoje a Valec tem 370 trabalhadores, dos quais 245 são comissionados. “O excesso de profissionais comissionados impede que se tenha uma cultura organizacional adequada, dificulta o engajamento porque o funcionário sabe que a qualquer momento pode ser exonerado do cargo”, disse Castello. O concurso público também será divulgado no início do ano. A previsão é ampliar o quadro funcional para pelo menos 500 pessoas, das quais apenas 10% serão comissionadas.

A reestruturação operacional da Valec é a preparação do terreno para que a companhia possa, no futuro, optar por uma abertura de capital. “A Valec tem toda a possibilidade de ser uma empresa de capital aberto não dependente dos recursos do Tesouro, como acontece hoje”, comentou Castello. “A empresa pode optar, por exemplo, pela abertura de filiais. Você pode ter uma filial na Bahia, explorando a malha específica da Valec. A receita virá da cobrança de pedágio das toneladas que trafegarem pela ferrovia.”

A estatal das ferrovias poderá, inclusive, mudar de nome. A identidade atual da Valec tem sua origem no vínculo com a sua ex-proprietária Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale), quando esta ainda não havia sido privatizada. “Quando as operações estiverem consolidadas, poderemos fazer essas mudanças institucionais. A Valec é uma empresa 100% pública, concessionária de malha ferroviária, mas à medida em que uma empresa se torna autossuficiente, a lógica é que se corte esse cordão umbilical com o passado.”

Com 30 anos de experiência no setor ferroviário, José Eduardo Castello estava à frente da subsecretária de Fazenda e Planejamento do município de Duque de Caxias, no Rio, até ser convidado pelo ministro dos Transportes, Paulo Passos, para assumir o comando da Valec. Com ele, outros três funcionários de carreira e perfil técnico foram alocados nas diretorias de planejamento, finanças e engenharia da estatal.

A crise dos Transportes detonada em julho levou à queda dos presidente da Valec, José Francisco das Neves, do diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, e do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM). Cerca de 30 servidores da Pasta foram afastados desde então. Na semana passada, o Dnit anunciou que, a partir de agora, só aceitará funcionários de carreira para ocupar comandar suas regionais em cada Estado do país, o que afasta a possibilidade de loteamento político nas superintendências da autarquia.

Na Valec, a palavra de ordem é retomar a rotina que, nos últimos seis meses, ficou praticamente paralisada, por conta da suspensão de editais da empresa. “Encontramos falhas em projetos mal feitos e de baixa qualidade técnica. Os métodos de monitoramento e supervisão também têm deficiências. Esses problemas levam a situações como estouro de orçamento, dificuldades difíceis de serem sanadas, mas mudaremos esse quadro”, diz Castello. “Houve a decisão do governo de profissionalizar a gestão, faremos isso.”

Publicada em 14/12/2011 15:43:15

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