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Aumento da longevidade muda dinâmica do mercado

Em todo o mundo, as pessoas estão vivendo mais. Consequentemente, elas estendem sua vida profissional para aumentar a renda para a aposentadoria ou, muitas vezes, por se sentirem dispostas o suficiente para continuar trabalhando. Essa mudança de perspectiva sobre o emprego dos “baby boomers”, nascidos entre 1946 e 1964, está mudando a dinâmica do mercado de trabalho.

Para Barbara Howard, diretora de gerontologia do Mature Market Institute, instituto de pesquisa do MetLife criado em 1997 para estudar questões ligadas ao envelhecimento e longevidade, esse cenário está estabelecendo novos desafios para governos e empresas.

Segundo a especialista, as companhias com mais chance de serem bem-sucedidas nessa questão conseguem contemplar em seus quadros diversas gerações. “Elas deverão identificar e se concentrar nos motivadores específicos de engajamento para os funcionários de grupos etários diferentes”, disse em entrevista ao Valor. A seguir, os principais trechos:

Valor: A nova geração está mais preparada que os baby boomers para lidar com o envelhecimento?

Barbara Geron: As concepções sobre o envelhecimento e como lidar com ele mudaram dramaticamente. No passado, a noção do “velho” era baseada em experiências pessoais, como a idade que nossos avós e pais tinham quando morreram. Com base nisso, as pessoas projetavam um período de vida parecido para elas mesmas, sem reconhecer que a expectativa média de vida quase dobrou nos últimos cem anos. A atual geração está testemunhando as vidas vigorosas e plenas que seus pais e avós estão experimentando, e terão modelos mais realistas para ajudar a prepará-las para o seu próprio envelhecimento. Nos Estados Unidos, estamos experimentando a transferência do peso financeiro na preparação para a aposentadoria. Antes, os americanos bancavam suas aposentadorias por meio de programas do governo e planos de previdência patrocinados pelos empregadores. Hoje, as pessoas mais jovens veem seus pais, e a si mesmas, arcando com a responsabilidade por suas aposentadorias.

Valor: Os trabalhadores estão cientes de que precisarão ficar no mercado por mais anos?

Barbara: Há evidências significativas de que as pessoas precisam ou querem trabalhar mais. Para alguns, o incentivo é se recuperar financeiramente da recessão e economizar mais para a aposentadoria. Outros querem permanecer ativos e engajados em atividades relacionadas ao trabalho. Um estudo publicado em 2009 pelo MetLife Mature Market Institute mostrou que 26% dos “boomers” mais velhos disseram que ainda não se aposentaram por causa da economia e do mercado de ações. Outros 20% disseram precisar de mais renda e 17% ficariam muito entediados se parassem.

Valor: Como os governos estão lidando com o impacto futuro do envelhecimento sobre a economia?

Barbara: Os Estados Unidos, por exemplo, estão anunciando medidas como aumentar a idade de 65 para 67 anos para que as pessoas possam receber os benefícios plenos da seguridade social. Governos de outros países como França e Grécia estão tentando fazer o mesmo.

Valor: O que o envelhecimento da população pode causar no mercado de trabalho global?

Barbara: Antes, com a recessão, muitas companhias estavam preocupadas em perder talentos e conhecimento na medida em que funcionários mais antigos iam se aposentando. Agora, as coisa mudaram. Muitas pessoas estão preocupadas em garantir renda suficiente para o seu sustento na aposentadoria. Por esta razão, elas estão trabalhando por mais tempo. Mesmo aquelas que têm uma situação financeira boa o suficiente para se aposentar estão permanecendo no mercado de trabalho, na medida em que reconhecem que têm muitos anos pela frente e querem permanecer ativas.

Valor: As empresas estão usando mais funcionários veteranos aposentados?

Barbara: Muitas companhias nos EUA estão se concentrando em toda a população economicamente ativa- a força de trabalho multigeracional- e vêm criando programas para ajudar os trabalhadores de várias gerações a trabalharem juntos. A adoção de uma abordagem desse tipo leva a um desempenho melhor, pois alavanca as habilidades dos funcionários de todas as idades. Empresas com forças de trabalho multigeracionais deverão identificar e se concentrar nos motivadores específicos de engajamento para os funcionários de grupos etários diferentes. Outro estudo realizado no ano passado pelo MetLife Mature Market Institute, em conjunto com o Sloan Center on Aging and Work do Boston College, mostrou que as pessoas da nova geração têm seus níveis de engajamento afetados por fatores como a saúde mental, a autoavaliação, o status de supervisor, a satisfação com o treinamento e a percepção da segurança no trabalho.

Valor: Como os países com populações jovens como o Brasil podem se destacar na economia global?

Barbara: Em 2000, a idade média dos brasileiros era de 26 anos e ela deverá aumentar para 41 até 2040. Certamente o Brasil é um país jovem hoje, mas olhando para o futuro, poderá se beneficiar aprendendo com as experiências de outras regiões com o envelhecimento.

Valor: A troca de talentos entre forças de trabalho jovens como a do Brasil e as de países mais velhos como os da Europa, por exemplo, tende a aumentar?

Barbara: Sem dúvida. Veremos uma troca de talentos entre países por todo o mundo, assim como o aumento de oportunidades de trabalho e desenvolvimento em novos ambientes. A tecnologia terá um papel significativo nesse sentido.

Publicada em 25/08/2010 15:36:52

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